Como é a atuação da Mulher em Tecnologia
- Depois do Deadline
- 11 de jun. de 2020
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Recebi a missão de escrever sobre mulheres na tecnologia e os desafios que isso envolve. Embora esse seja o meu “mundo” atualmente, claro que nem sempre foi assim e fiquei pensando por onde começar. Aliás, como isso tudo começou.
Você conhece o protocolo STP? Aquele que impede o loop de dados nas redes e na internet. Pois bem, foi invenção de Radia Perlman. Já a tecnologia utilizada nos celulares e aparelhos Wi-Fi tem como referência o trabalho desenvolvido pela inventora e atriz Hedy Lamarr. Sempre estivemos contribuindo junto aos homens.

Aí me peguei pensando “qual era mesmo o meu brinquedo preferido na infância?” E, claro, muitas mulheres, assim como eu, pensavam em bonecas, panelinhas, ao ponto que muitos homens se lembrariam de blocos de engenharia, vídeo games, carrinho e bola.
O mundo segue em constante evolução e dizer isso já é um clichê da atualidade. As tecnologias ajudam no trabalho, as cidades se desenvolvem, mas alguns paradigmas e preconceitos ainda existem, óbvio que hoje em menor grau em nossa sociedade, mas ainda estão nos rondando e continuamos a ver poucas mulheres nos cursos de graduação em ciências da computação por exemplo.
Lembro-me também de alguns desafios na época de escola e de ouvir que mulheres eram de humanas e homens eram de exatas. Um machismo cultural que nossos pais, familiares e amigos repetiam sem perceber. Confesso que nunca pensei muito a fundo sobre isso tudo e como por décadas isso possa ter influenciado nosso modelo mental e, por consequência, as nossas escolhas profissionais. E, honestamente, não acho que eu tenha feito essa correlação ou mesmo que isso tenha me limitado de alguma forma mas acredito sim que muitas de nós, mulheres, podem ter seguido outras carreiras por não se considerarem capazes ou suficientemente inteligentes para tal, sem falar nas que foram educadas apenas para ser mãe e esposa.
Fui me dar conta dos desafios, quando mais por sorte do que por procura, acabei indo trabalhar em uma empresa de tecnologia como recepcionista, aos 19 anos. Obviamente, naquela época, há mais de 20 anos, eu não sabia nada de tecnologia, mas sempre fui muito curiosa e observadora. Eu nunca tinha ouvido falar em e-mail e era uma usuária bastante tímida de computadores. Mas, como minha mãe adora ditados e cresci em uma casa sendo motivada e guiada por eles, então foi inevitável não pensar em um deles: “Se um cavalo selado passar perto de você, suba porque pode ser que ele passe apenas uma vez”. E foi o que fiz quando me vi inserida nesse mundo totalmente novo para mim.
Quase que nativamente interessava-me pelos temas, perguntava, não entendia e sempre que podia ia participando de tudo que era permitido. As oportunidades foram aparecendo e aos poucos fui aprendendo sobre o que era tecnologia, o que era um software, uma solução, projetos, central de atendimento e, então, comecei também a enxergar os desafios.
O grande barato da tecnologia para mim é poder ajudar a transformar a experiência do cliente. E nem sempre usávamos esse termo que hoje é um hit de mercado, mas sempre me encantou todo o processo de vendas, desenvolvimento e implementação dos projetos tecnológicos. Ouvir a necessidade e conseguir transformar com o uso de uma tecnologia sempre me trouxe e ainda me traz uma felicidade enorme. Sempre gostei de ver a mágica acontecer e pensar, eu fiz parte disso.
"Tive a sorte de ter começado em uma empresa que já naquela época entendia que mulheres podem e, muitas vezes, podem até ter mais êxito do que os homens em algumas atividades. E fui descoberta e inspirada por uma grande mulher. Embora eu não dê a mínima para que o gênero determine o que uma pessoa pode ou não fazer. Nosso grupo era misto e sempre havia novas integrantes chegando e sendo capacitadas. Trabalhei com algumas mulheres fantásticas, fortes, com uma inteligência e capacidade técnica diferenciadas. Aquilo fascinava-me, pois sentia-me desbravando o novo e ganhando um espaço antes somente ocupado por homens."

Passei por diversas posições até chegar aonde estou e ainda me recordo dessa mesma mulher, que foi minha mentora, chefe e se transformou numa amiga querida que sempre me inspira e que sempre me dizia: Use esse frio na barriga para te levar um degrau acima e não desista nunca, porque o novo assusta, mas ficar parada é desesperador.”
Quando iniciei minha carreira em tecnologia, ainda víamos com muita, muita frequência, a avaliação sendo feita pela sua aparência e não por sua competência. Ser mulher em TI exigiu-me dedicação e esforços dobrados, porque além de aprender para mim, de certa forma, tinha que saber o suficiente para convencer os outros de que eu sabia e dominava o assunto sobre o qual eu estava falando. Todo time comercial tinha que ter rostos bonitos, belos sorrisos, mas sempre supervisionados por um homem para dar credibilidade ao que se era dito por uma mulher.
Passei por experiências constrangedoras, que por sorte ficaram no passado. Mas, foram inúmeras as vezes em que mulheres sozinhas não podiam realizar reuniões técnicas, sem falar das propostas indecentes e dos convites indecorosos, que exigiam jogo de cintura. Tudo reflexo da educação discriminatória e do atraso cultural.
A medida em que o mercado foi expandindo, as mulheres foram ganhando espaço, passando a ser fonte de renda considerável em casa, algumas vezes sendo a maior fonte de renda. Mulheres cada vez mais buscando capacitação e reconhecendo seus valores. Eu fiz parte dessa transformação e muito disso, porque eu fui descoberta por outra grande mulher, visionária e sempre à frente do seu tempo.
Passei por diversas empresas com culturas diferentes e quanto mais o tempo passa, percebo que o equilíbrio é o que nos faz mover e trocar experiências.

Tive a oportunidade de conhecer diversas engenheiras de software, pré-vendas, desenvolvedoras, analistas, consultoras, líderes de alta gestão todas mulheres altamente qualificadas e que assim como eu transitavam nesse mundo transformador de tecnologia.
É bem bacana ver o que aconteceu em duas décadas com o mercado de tecnologia: o que era majoritariamente masculino, hoje já se beneficia de um equilíbrio e conta com uma presença feminina expressiva, estamos no caminho da igualdade. Acredito que nos nutrimos do conhecimento mutuo assim como ensinamos também aprendemos, sempre no caminho do equilibrio. Hoje a tecnologia é representada e muito bem por diversas profissionais, que além de mulheres são mães, esposas e com muito êxito.
Ainda temos um caminho a trilhar por igualdade salarial e representatividade, mas estamos no caminho certo. Essa nova geração veio com uma gana por igualdade e isso faz com que a mulher possa ser o que ela quiser, aonde ela quiser, sem perder sua ternura e sem qualquer diferença de gênero.
Gosto do equilíbrio e acredito que cada um tem seus pontos fortes e que a combinação dos gêneros traz oportunidades para todos. Mas, não podemos negar que faz parte da natureza feminina ser detalhista, persistente, certo garotas?
Enche-me de orgulho saber que posso ser inspiração para jovens mulheres que desejam trilhar esse caminho da tecnologia em qualquer posição, seja em vendas como eu ou sendo uma desenvolvedora ou em qualquer outro papel. Um time misto propicia uma boa troca e sempre temos a aprender com o outro.
Gosto dessa combinação de formas de pensar, de modelos desruptivos e de poder admirar as conquistas de TODOS e de estar sempre aberta para aprender, porque a tecnologia é dinâmica e evolui muito rapidamente. Bora mulherada continuar transformando esse nosso mundo .
Concorda? Tem uma opinião diferente? Comente aqui, será muito bem vindo.

Gabriela Almeida
Mãe coruja, eterna viajante, adora cozinhar para família e amigos nas horas vagas. Formada em International Business, construiu sua trajetória profissional no setor de Tecnologia, com passagem bem sucedida em grandes empresas como Nice, Oracle, Genesys e Mutant.
Atualmente ocupa a posição de Chief Business Officer na Meeta Solutions. Praticante ativa do trabalho em time, acredita e motiva sua equipe para ouvir, colaborar e então, através da empatia, fazer a diferença.
Que bom ter a oportunidade de conhecer um pouco mais da sua história... escalada de sucesso, que é constante, inclusive.
Não tem sorte, né? Tem esforço e trabalho 😉!
E o melhor... sem vitimismo! Adorei!